Recebi um email com esse poema e resolvi reproduzi-lo aqui no blog. Ando sem tempo para escrever, infelizmente... =/
Balada para Outras Isabelas
Meu nome não é Isabella
Nem caí do sexto andar
Será que pensaram, os insanos
que ela sabia voar?
Não moro num apartamento equipado
Não tenho brinquedos nem piscina pra nadar
Eu brinco as vezes nas poças de chuva
Com gatos, latinhas, bolinhas de gude,
Isso quando não tenho que trabalhar.
Não sei dançar e não brinco como menina educada.
Porque aprendi desde cedo, lá no morro onde nasci,
Que não importa o sexo da criança, menino ou menina,
a experiência é viver o teatro da sobrevivência.
Não me chamo Isabella,
nem fui morta (ainda) pelo meu pai ou madrasta.
Mas morro um pouco a cada dia,
Quando sou espancada.
E morro também engasgada assim,
Obrigada a me calar quando tenho
mãos sobre mim.
Nem sempre a me sufocar, mas explorando
de um jeito esquisito que nem entendo direito,
no meu corpo sem contornos.
Meu nome não é Isabella.
Não tenho cabelos lisos e nem olhinhos espertos.
Meus olhos são opacos, talvez
por não querer enxergar minha realidade.
Também não faço teatros no palco da escolhinha.
Isso não é pra mim.
Quando vou a escola, é somente para
comer a merenda que me dão.
Muitas vezes em casa não tem sequer pão.
O mãximo que sei fazer é correr
morro abaixo, morro acima, entre os carros dos sinais.
Para ganhar um trocado ou fugir dos adultos
que insistem em me machucar.
Eu não me chamo Isabella.
Mas assim como ela (ou até mais!)
eu sofro, e diariamente.
Tenho marcas de pancadas, queimaduras de cigarro,
tenho ossos fraturados, boca sangrando, hematomas
que mãos e pés gigantescos me provocam sem motivo.
Não morri como Isabella.
Ainda não... mas irmãos,
amiguinhos, conhecidos,
eu sempre vejo morrer.
Quem matou? Nunca se sabe.
'ele caiu', 'tropeçou', 'queimou-se por acidente'.
'Estuprada? Coitadinha', 'não fui eu' diz o padrasto.
'nem eu' diz a mãe omissa,
e eles não tem quem reze a eles uma missa.
Eu não me chamo Isabella.
Sou Maria, Rita, João,
sou Josefina, Mirtes,
Paulo, Sebastião.
Sou tantas e tantas crianças que todo dia
a omissão de todos deixa morrer.
Engraçado é que ninguém faz passeata por mim.
A imprensa não divulga, o figurão não se importa.
A classe média não grita.
Os ricaços dão de ombros.
Que hipocrisia é essa de chorar por uma só?
São tantas Isabellas vioentadas sem dó...
Mas que importa os escombros, a escória da sociedade?
Se não me chamo Isabella, não mereço piedade.

----------------------------------------------------------------------