quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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Essa mulher que está na foto está na frente do meu trabalho todo dia de manhãzinha. Acorda cedo pra ir até lá porque costumamos dar a ela pão e café.
Todos os dias ela está com uma roupa diferente, seguindo sua própria moda, tão peculiar quanto sua existência. O que ela acha na rua, ela recicla. Uma vez vi ela usando sapato de salto alto vermelho, acho que alguém deu a ela ou ela achou o par em algum lugar, mas o interessante é ela manter a vaidade, apesar de, aparentemente, não ter conseguido manter a sanidade. Falo isso porque esta mulher é indigente.. não tem casa, comida, roupas, amigos. Fala sozinha, anda sozinha (e anda bastante, porque já a vi bem longe de onde eu moro e do trabalho, mesmo assim todo santo dia de manhã ela está lá!), dorme sozinha, se veste sozinha... um dia, quando fui entregar seu café da manhã (detalhe: ela fica esperando DO OUTRO LADO DA RUA que lhe entreguemos o dito-cujo), ela estendeu uma cédula dessas miniaturas falsas de banco imobiliário... e sorriu. Eu fiquei intrigada: será que ela estava tirando uma com a minha cara? Ou quem sabe quis simbolizar gratidão com a atitude? Ou quem sabe realmente achou que me pagava em dinheiro pelo agrado de todos os dias..? Sei que eu fico intrigada com ela... não consigo ter certeza se ela conseguiria contar sobre a sua história, dizer seu nome e tal, ou se tanto tempo sem a atenção de amigos ou familiares a teriam deixado louca... só sei que, se comunicando com a gente ou sozinha, a impressão que dá é que ela fala outra língua. Impossível decifrar o que sai com voz baixa e tímida de dentro dela..

Eu tenho vontade de tentar conversar com ela um dia. Na frente da minha casa mora uma senhora de seus 60/70 anos que já foi matéria no jornal Bom Dia e TV Tem. Ela é negra, deve ter menos de um metro e meio, vive cheia de trouxas de pano onde guarda seus pertences e dorme na calçada do vizinho. Ela é bem diferente da mulher que vai no meu trabalho. Ela vai até as casas pedir água e até puxa papo com as pessoas, quando consegue dinheiro compra marmitex (e alimenta o bolo de gatos que a cercam), de alguma forma se mantém limpa, roupas limpas e coisas do tipo, enfim, pode-se dizer que é bem organizada. O que a fez ser matéria de jornal é o fato de que já ofereceram trabalho a ela em troca de um lar (faria faxina na casa e, consequentemente, moraria lá), já tentaram leva-la a um albergue (cujo lugar já visitei e é acolhedor!), mas ela se recusa a esse tipo de "caridade". Ela mora na rua porque GOSTA! Ou quase isso.. O fato é que ela prefere morar na rua a ter que aceitar regras ou assinar acordos, o tipo que preza a liberdade acima de tudo... não sei se conseguiria viver como ela, mas a bandeira que ela levanta é louvável, digna de admiração, não é? Além disso, a história dela é bem sofrida e triste, o que já é de se esperar de uma pessoa que tem tanta paixão pela liberdade e aversão por aqueles que sentem pena dela. Não vou contar a história porque é longa, mas envolve abandono dos filhos, preconceito e essa coisa toda..
Mas eu citei a senhora sem teto porque justamente, histórias assim nos fazem refletir, quer dizer, tudo tem um porquê. Eu tenho muita curiosidade de saber o porquê da mulher da foto. O que teria acontecido para ela chegar a esse ponto? O que não teria sofrido até ali? Como vive nessas circunstancias? Até quando?
E tudo o que podemos fazer pra ajudar é oferecer um pãozinho com café?

* Ouçam O Resto do Mundo, do Gabriel o Pensador.
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